Teoria da Decisão de Simon

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1. Quem foi Herbert Simon?

Herbet Simon. Fonte: Wikipedia.

Herbert Simon (1916-2001) foi um renomado cientista social, economista, psicólogo e filósofo norte-americano. Nasceu em Milwaukee, Wisconsin e se destacou por suas contribuições interdisciplinares para diversas áreas do conhecimento.  Simon recebeu seu doutorado em ciências políticas pela Universidade de Chicago em 1943. Sua obra abrangeu campos tão diversos como economia, ciência da computação, psicologia cognitiva e teoria da administração. Em 1978 recebeu o Prêmio Nobel de Economia, juntamente com seu colega, por seu trabalho pioneiro em teoria da decisão. Fora isso, Recebeu ainda a Medalha Nacional de Ciência, em 1986 e o Award for Outstanding Lifetime Contributions to Psychology, da APA, em 1993.

De 1950 a 1955, Simon estudou economia matemática e, com David Hawkins, descobriu e provou o teorema de Hawkins-Simon sobre as “condições para a existência de vetores positivos de solução para matrizes de entrada-saída”. Ele também desenvolveu teoremas em near-decomposability e agregação. Tendo começado a aplicar estes teoremas em organizações, Simon determinou, por volta de 1954, que a melhor maneira de estudar resolução de problemas seria por simulações usando softwares, que levou ao seu interesse por simulação computacional da cognição humana.

2. Introdução a Teoria da Decisão

A teoria da decisão de Simon, concebida pelo economista e psicólogo Herbert Simon, oferece uma perspectiva sobre como os seres humanos enfrentam o desafio constante de tomar decisões em um mundo complexo e cheio de incertezas. Simon introduziu o conceito de “racionalidade limitada”, reconhecendo as restrições inerentes às capacidades cognitivas e ao ambiente em constante mudança que influenciam nossas escolhas.

A essência da teoria reside na ideia de que, diante da vasta gama de informações e alternativas disponíveis, os tomadores de decisão não podem analisar exaustivamente todas as opções. Assim, em vez de buscar a decisão ótima, os indivíduos muitas vezes adotam estratégias simplificadas, chamadas de “heurísticas”, para encontrar soluções satisfatórias.

A teoria da decisão de Herbert Simon é frequentemente dividida em quatro fases, que descrevem o processo de tomada de decisão. Estas fases são:

1. Fase de Inteligência:

Nesta fase inicial, o tomador de decisão identifica e reconhece o problema ou a necessidade de tomar uma decisão. Envolve a coleta de informações relevantes, compreensão do contexto e definição clara do problema a ser resolvido.

2. Fase de Projeto:

Após a identificação do problema, segue-se a fase de projeto, onde são geradas alternativas possíveis para resolver ou lidar com o problema identificado. Aqui, o tomador de decisão gera diferentes soluções, avalia suas vantagens e desvantagens, e formula estratégias ou cursos de ação.

3. Fase de Escolha:

Nesta fase crucial, o tomador de decisão avalia as alternativas geradas na fase anterior e seleciona a melhor opção possível, com base em critérios pré-definidos. É importante notar que, devido à racionalidade limitada, nem sempre se busca a melhor opção absoluta, mas sim uma solução satisfatória.

4. Fase de Implementação:

Após a escolha da alternativa, segue-se a implementação da decisão. Esta fase envolve a execução do plano escolhido e o acompanhamento dos resultados para garantir que a decisão tomada seja aplicada corretamente e alcance os resultados desejados.


3. A Racionalidade Limitada

Na teoria econômica moderna é pressuposto que indivíduos vão naturalmente tomar as decisões mais satisfatórias possíveis para chegarem a determinado resultado.  A noção desenvolvida por Herbert, a de racionalidade limitada, é a negação do pressuposto original, ou seja, indivíduos não são capazes de tomar as melhores decisões sempre por falta de acesso ou limitações na capacidade de processamento de recursos em várias dimensões:

  • Limitações Cognitivas: As pessoas têm capacidades cognitivas finitas, o que significa que não podem processar todas as informações disponíveis. Isso leva a simplificações e generalizações na tomada de decisões.
  • Limitações de Informação: A obtenção de informações completas e precisas pode ser difícil ou impossível em muitas situações. Os agentes muitas vezes tomam decisões com base em informações incompletas.
  • Limitações Temporais: O tempo disponível para tomar uma decisão é muitas vezes limitado. Isso pode levar a escolhas que são mais rápidas, mas não necessariamente mais ponderadas.
  • Limitações de Recursos: Os recursos, como dinheiro e energia mental, são limitados. As pessoas não podem dedicar todos os seus recursos à resolução de um único problema, o que influencia a qualidade das decisões tomadas.

Tendo em mente essas limitações, o indivíduo utiliza heurísticas para chegar a uma decisão satisfatória, embora não necessariamente a melhor. Heurísticas costumam incluir regras simples baseadas em experiências, influências sociais e bibliografia. Elas permitem a economia de processamento mental humano, permitindo que as pessoas cheguem a uma decisão satisfatória sem a necessidade de analisar todas as informações disponíveis de maneira detalhada.

Embora a teoria de racionalidade limitada e as heurísticas sejam uma ferramenta útil, elas também podem levar a vieses cognitivos e decisões não tão boas. Os vieses cognitivos ocorrem quando as heurísticas levam a desvios sistemáticos do raciocínio lógico, influenciando a interpretação de informações e afetando o julgamento.

4. Estudos de Caso

Estratégia satisfatória

Caso 1: um indivíduo à procura de um emprego, aceita a primeira oferta de emprego que recebe ao invés de esperar por uma vaga potencialmente melhor.

Caso 2: um casal compra uma casa que atende à maioria dos seus critérios, em vez de continuar uma longa busca pela casa “perfeita”

Racionalidade limitada

Caso 1: compras: devido à sobrecarga cognitiva decorrente de inúmeras escolhas, um comprador compra uma marca popular de cereal em vez de comparar o valor nutricional de cada opção.

Caso 2: votação: O eleitor escolhe um candidato com base na filiação partidária, em vez de pesquisar a fundo as políticas de cada candidato.

5. Aplicações Práticas

Na vida cotidiana, a teoria da decisão de Herbert Simon, com seu conceito de racionalidade limitada, desempenha um papel crucial em diversas situações. Ao realizar compras, por exemplo, a sobrecarga cognitiva muitas vezes leva os consumidores a optarem por marcas populares em vez de analisar minuciosamente as opções disponíveis, destacando a influência direta das limitações cognitivas.

Outro cenário comum é a escolha de empregos, onde a pressão temporal muitas vezes leva os candidatos a aceitar a primeira oferta que recebem, em vez de aguardar por oportunidades potencialmente melhores. Este caso ilustra como as limitações de tempo impactam as decisões, levando a escolhas que podem ser satisfatórias, mas não necessariamente otimizadas.

Ao explorar essas situações do dia a dia, é possível compreender como a teoria da decisão de Simon oferece insights valiosos sobre como as pessoas lidam com a complexidade das escolhas, muitas vezes recorrendo a estratégias simplificadas para alcançar resultados satisfatórios. Essas aplicações práticas ressaltam a relevância contínua da teoria da decisão na compreensão do comportamento humano em face das restrições cognitivas e temporais.

Uma pesquisa interessante que aplicou a teoria da decisão de Simon na área contábil foi realizada por Macedo, Dantas e Oliveira (2011), que analisaram o comportamento decisório de profissionais de contabilidade sob a perspectiva da racionalidade limitada. Os autores utilizaram a Teoria dos Prospectos e as Heurísticas de Julgamento para estudar os vieses de decisão que afetam o processo de tomada de decisão dos contadores.

A Teoria dos Prospectos propõe que as pessoas avaliam as alternativas de decisão de forma diferente, dependendo de como elas são apresentadas, e que elas tendem a ser mais avessas ao risco quando as alternativas envolvem ganhos, e mais propensas ao risco quando envolvem perdas. As Heurísticas de Julgamento são atalhos mentais que as pessoas usam para simplificar o processo de decisão, mas que podem levar a erros sistemáticos, como a falácia da conjunção, a concepção errônea do acaso e a tendência a ignorar informações.

Os resultados da pesquisa mostraram que os profissionais de contabilidade da amostra contrariam o princípio da invariância, que afirma que as preferências entre as alternativas não devem mudar dependendo de como elas são descritas. Além disso, eles demonstraram os vieses decorrentes do uso das heurísticas de julgamento, indicando que as limitações cognitivas afetam o comportamento decisório dos contadores.

Essa pesquisa ilustra como a teoria da decisão de Simon pode ser aplicada em um contexto específico, e como ela pode contribuir para a compreensão dos fatores que influenciam as decisões dos profissionais de contabilidade. Esses fatores podem ter implicações importantes para a qualidade e a confiabilidade das informações contábeis, bem como para a ética e a responsabilidade dos contadores.

6. Referências

SIMON, H. A racionalidade do processo decisório em empresas. Rio de Janeiro: Multipl. v. 1, n. 1, 1980

Bounded Rationality – The Decision Lab. (n.d.). The Decision Lab. https://thedecisionlab.com/biases/bounded-rationality

Bounded Rationality (Stanford Encyclopedia of Philosophy). 2018. https://plato.stanford.edu/entries/bounded-rationality/

https://atena.org.br/revista/ojs-2.2.3-08/index.php/Ambiente/article/viewArticle/1268

Autores

André Gomes de Lima Braga (234444)
Carolina Noda (254187)
Diego Ferreira Rapaci (198854)
Gabriel Sales Da Silva Matos De Araujo (248008)
William Sauerbronn de Almeida Dias (184732)