Cada vez o manejo do solo ganha mais peso quando se pensa em sustentabilidade e segurança dos alimentos. Para o professor e químico Rafael Arromba de Sousa, da Universidade Federal de Juiz de Fora, é preciso repensar as práticas agrícolas. Na visão do professor, o profissional da Química pode atuar desde as análises físico-químicas do solo à formulação dos insumos destinados à sua fertilização.
Atualmente, o professor orienta alunos de graduação e pós-graduação em projetos envolvendo o desenvolvimento de métodos analíticos aplicados à determinação de elementos minerais e metais tóxicos em amostras ambientais, biológicas e, principalmente, alimentícias.
“É um desafio não apenas nosso [dos químicos], ocorre em estudos de profissionais de diferentes áreas. No caso da Química, podemos lançar mão de análises que demonstrem como estão nossos solos e os corpos de água próximos às plantações. E, assim, verificar se está havendo incorporação de substâncias tóxicas, como os pesticidas, metais pesados e arsênio, os quais também precisam ser monitorados nos alimentos que são produzidos”, alerta o químico, formado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
“Numa linguagem mais moderna, podemos contribuir com novas tecnologias, em métodos de análises”, acrescenta.
Segundo o profissional, os laboratórios já sabem quais seriam essas análises e muitos pesquisadores têm desenvolvido pesquisas que possibilitam aperfeiçoar métodos e identificar os poluentes mais relevantes, com base em alguns estudos de caso e estudos de prospecção ambiental.
A contaminação do ambiente e dos alimentos é definida pela concentração dos seus constituintes. Por isso, o pesquisador alerta para a importância de uma constante monitoração de todo o processo. No caso dos fertilizantes, um dos mais conhecidos são os do tipo NPK, que são fontes dos elementos minerais nitrogênio e fósforo.
“Embora esses elementos sejam macronutrientes para os vegetais, o excesso dos mesmos pode poluir o solo e contaminar a água do subsolo e o ar. Essas contaminações não são visíveis, mas os efeitos podem ser graves. O excesso dessas substâncias tende a ser carreado pelas águas das chuvas e, assim, chegar aos lençóis freáticos e em corpos de água superficiais”, diz o professor.
Um conceito muito importante em Química Ambiental é que a presença de uma substância no solo, na água (ou mesmo num alimento) não significa, necessariamente, um problema de contaminação (ou poluição).
Além de estar presente na análise do solo e na fabricação dos insumos, os profissionais da Química podem auxiliar o setor na melhoria do manejo, do ponto de vista ambiental.
“Na minha opinião, isso é algo interdisciplinar e que poderia ser mais incentivado. Além disso, ajudaria muito se fosse possível implementar, entre os trabalhadores rurais e os produtores, capacitações técnicas para trabalhar de forma contextualizada conhecimentos de química ambiental”, argumenta.
Alerta
Sousa afirma, porém, que substâncias como os nitratos estão relacionadas com algumas doenças, como é o caso do câncer de estômago e a metemoglobinemia (doença do bebê azul). Por isso, apenas quantidades muito baixas de nitrato (e nitrito) são permitidas na água de abastecimento.
Em relação à química da atmosfera, um dos problemas existentes é a depleção da camada de ozônio, causada (dentre outras substâncias) por óxidos de nitrogênio. O excesso de fertilizantes nitrogenados altera o Ciclo Biogeoquímico do Nitrogênio e se desprendem do solo uma quantidade maior de óxidos de nitrogênio, contribuindo para o agravamento desse problema.
Já os compostos de arsênio e de metais pesados podem afetar a microbiota do solo, a qualidade da água (se também forem carreados pelas águas das chuvas), e até a qualidade dos alimentos. Logo, para prevenir isso precisa-se não só evitar o excesso de fertilizantes como também monitorar a presença desses contaminantes nos produtos, visto que são contaminantes naturais das matérias-primas.
As análises físico-químicas são primordiais e os produtores precisam providenciá-las com regularidade ao longo do ciclo de cada produção.
De acordo com o professor Sousa, essas análises devem ser realizadas em laboratórios competentes e por profissionais da Química que sejam capacitados para essa atividade.
Pesquisas
Rafael Sousa tem participado de algumas pesquisas que visam identificar fontes cotidianas de poluição ambiental, por metais tóxicos. Um dos exemplos é a pesquisa da ex-orientanda Taimara Polidoro, que identificou cádmio e chumbo em joias de baixo custo (bijuterias).
Nesse trabalho ficou comprovado que algumas amostras continham níveis elevados desses metais. Em contato com a água e/ou solo, esses metais podem ser liberados para o ambiente.
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