Relato-2019

Dia 3/12/19

O III Workshop de Práticas de Ensino iniciou-se com a palestra do Prof. Rickson C. Mesquita (IFGW/UNICAMP) sobre a aprendizagem baseada no domínio. O Prof. Rickson iniciou sua palestra mostrando uma de suas primeiras aulas no IFGW em 2011, onde sempre tentava tornar a aula mais lúdica. Indicou em seguida que informação não é conhecimento e que conhecimento requer um aprendizado obtido por meio de uma postura ativa. Mostrou também a diferença entre dado, informação e conhecimento. Fez um apanhado histórico apresentando que o modelo de transmissão de informação como conhecemos hoje nas aulas tradicionais surgiu na Idade Média e que a partir do modelo prussiano foi onde se percebeu que a educação poderia servir para o Estado. Chamou a atenção que nesse modelo, o tempo de aula, fragmentado em períodos de 50 min a 1 h, foi pensado para coibir uma pensamento mais complexo e livre.

Em seguida, o Prof. Rickson apresentou alguns trabalhos que mostraram que as aulas expositivas são ineficientes (Poh, Swenson, Picard – 2010) e que metodologias ativas melhoram o aprendizado (Freeman PNAS 2014). O Prof. Rickson então mostrou um estudo de caso para a disciplina F128 – Física 1 do IFGW. Ele mostrou como eram organizadas as aulas antes de 2013 (aula expositiva 2h + aula de exercícios 2h onde o PED resolvia os exercícios na lousa) e depois de 2013 (aula expositiva com peer instruction 2h + aula de exercícios 2h onde os alunos resolviam os exercícios e o PED tirava dúvidas). Ele mostrou que com essa mudança para uma metodologia mais ativa houve um ganho no aprendizado comparado a turmas que não adotaram essas metodologias.  No entanto, esse ganho ainda foi baixo (~50%). Com isso, o Prof. Rickson discute que o problema está no modelo educacional e o uso de novas metodologias não resolverá o problema.

Ele mostrou que o modelo educacional atual fixa o tempo de ensino (um semestre, por exemplo, em disciplinas semestrais) e não foca no resultado. Num modelo onde a aprendizagem é baseada no domínio, o aprendizado é fixo e o tempo que o aluno tem para adquirir aquele conhecimento é variável. Em seguida, o Prof. Rickson mostrou como esse tipo de modelo apareceu nos anos 20 com Washburne com o Winnetka Plan e depois nos anos 50 com Dollard Miller com a divisão de instrução e avaliação contínua, depois em 1966 com Benjamin Bloom com o Learning for Mastery onde aluno deveria atingir um domínio (e.g. 90%) de um assunto para passar para o assunto seguinte. Já em 1970-80 avançou o método de Fred Keller – PSI (Personalized System of Instruction) que tem 5 princípios: 1) “go to your pace”; 2) busca pela perfeição; 3) uso de demonstrações e aulas expositivas como motivação; 4) escrita como meio de comunicação entre professor e aluno; 5) uso de tutores. A popularização desse método ocorreu em 2004-2009 com a Khan Academy. Depois desse apanhado histórico, o Prof. Rickson mostrou como esse método foi aplicado em F128 numa turma especial do tipo # onde o aluno tem que fazer atividades obrigatórias e não somente as provas. Ele usou o Moodle para elaborar questionários que o aluno só podia avançar se atingisse uma nota mínima de 7 na atividade atual. Ele mostrou dados do número de vezes que os alunos faziam as atividades até atingirem a nota mínima. O número médio era de 5-10 vez mas tinha alunos que chegaram a fazer a atividade até 40 vezes antes de atingirem a nota mínima o que mostra que cada aluno tem seu tempo de aprendizagem.

Após a palestra do Prof. Rickson, o Prof. André de Angelis falou sobre o uso de smartphones em provas no Moodle. Ele usou essa metodologia em 3 turmas de graduação e 1 de pós-graduação, que foi bem aceita pelos alunos, é prática e de logística simples. Algumas vantagens para o aluno apontadas foram: boa aceitação, conforto, agilidade, facilidade de uso, independência do wi-fi e cobrança ética. Já para o professor, as vantagens foram: facilidade de aplicação, simples logísitica, isenção de responsabilidade sobre o dispositivo (cada aluno é responsável pelo seu próprio aparelho) e ausência do conflito smartphone x aula. Algumas desvantagens: menor controle do dispositivo quando comparado ao uso de tablets onde se pode “travar” a tela, dificuldade com questões abertas e necessidade de algum equipamento de reserva caso algum celular apresente problema no momento da prova. Quanto às questões abertas, o Prof. Rickson sugeriu o uso de questões do tipo Ensaio no Moodle, onde o aluno pode tirar uma foto da resposta e enviar para o professor no Moodle. O Prof. André informou que tem aplicado provas com 40 questões divididas em questões de múltipla escolha e verdadeiro ou falso e com uma senha que é apresentada no início da prova. Isso tem inibido a busca por ajuda externa (“cola”) por não sobrar muito tempo de fazer isso durante a realização da prova. Ele constatou um caso de fraude (aluno realizando a prova fora da sala de aula) que foi detectada rapidamente durante a prova analisando o relatório de acessos gerado pelo Moodle.

A Profa. Juliana Leite da FCA relatou em sua apresentação a experiência da Aula-expressão na disciplina de Proteção Social do curso de Administração Pública da FCA. Nessa disciplina, os alunos se organizaram para preparar um sarau, criando-se um espaço para os alunos se expressarem. A Profa. Juliana também apresentou um vídeo produzido pelos alunos sobre diversos temas como a violência contra a mulher e injustiça social. Um dos alunos da disciplina veio até o Workshop para apresentar um relato da experiência gratificante vivida por uma das alunas da disciplina.

Em seguida, o Prof. Marco Antônio Garcia de Carvalho falou sobre uma proposta de misturar disciplinas a ser implementada em 2020 na FT e FCA. Professores de duas disciplinas (no caso, computação gráfica (FT) e fenômenos de transporte (FCA)) falarão sobre conteúdos de sua disciplina numa aula da disciplina do colega, numa aula compartilhada. Essa ideia surgiu a partir de uma visita que o Prof. Marco fez no Olin College (EUA), onde participou de uma aula que misturava história da arte e ciência dos materiais. A ideia do Mistura tudo! também está em sintonia com as novas diretrizes curriculares nacionais da área de Engenharia publicadas em abril/2019 onde se espera uma maior integração entre as disciplinas de um curso de Engenharia.

Após a apresentação sobre o Mistura tudo!, o Prof. Vitor R. Coluci falou sobre o projeto ExpLORa, projeto financiado pela Coordenadoria Geral da Universidade que tem como  objetivo reduzir as taxas de reprovação e de evasão nos cursos da Unicamp. Particularmente, o projeto ExpLORa visa implementar um espaço onde os alunos possam interagir com experimentos e demonstrações da área de Física e Matemática, aumentar a integração entre os professores da FT dessas áreas e reduzir a taxa de reprovação. O Prof. Vitor mostrou que essa taxa, na FT, é de aproximadamente 50% e que tem se mantido constante nos últimos 6 anos.

Além disso, o Prof. Vitor mostrou dados da Convest que indicam que os alunos da FT tem um desempenho no vestibular mais baixo que outras unidades nas áreas de Física e Matemática. E que isso tem afetado o desempenho dos alunos nas disciplinas de Física e Matemática na graduação.  O prof. Vitor falou de algumas ações que já sendo implementadas como a restruturação da disciplina de Geometria Analítica e Álgebra Linear, Cálculo e laboratórios de Física, a criação de um grupo de tutoria formado por alunos e também sobre o estágio atual de adequação da SA10 para abrigar o novo espaço.

Em seguida, o Prof. André de Angelis falou sobre um método que ele tem usado para avaliar o desempenho de alunos que realizam trabalhos em grupo. Em geral, os professores não tem como conhecer o desempenho individual dos alunos em trabalhos realizados em grupos. Mas os alunos conhecem e o método proposto usa isso. Basicamente, o professor passa ao grupo uma folha (relatório de contribuição) que deve ser preenchida pelo grupo informando a distribuição/contribuição de cada um (em %) no trabalho. O “pulo do gato” do método é que essa distribuição tem um custo para o aluno, que não pode simplesmente dividir igualmente a contribuição (25% num grupo de 4 alunos, por exemplo). No método proposto pelo Prof. André, não pode haver repetição no valor da distribuição. Assim, para aumentar a contribuição de um aluno, é preciso reduzir a contribuição de outro aluno. Os valores dessas contribuições fornecidas pelos alunos são combinados com a nota do trabalho em si (dada pelo professor) e com o tamanho do grupo para obter a nota de cada aluno. Detalhes do relatório de contribuição podem ser vistos aqui e um modelo pode ser obtido aqui e também no site do Prof. André http://angelis.pro.br/recursos.html.

 

Após o almoço, o Prof. Jaime Portugheis discutiu a importância dos conceitos envolvendo probabilidade em cursos de estatística. Para ilustrar isso, apresentou o exemplo da divulgação dos resultados da pesquisa eleitoral em 2014 e em 2018, quando somente em 2018, o termo probabilidade apareceu na fala do jornalista. O Prof. Jaime também mostrou como é a distribuição dos conceitos em livros clássicos de estatística, indicando que conceitos de probabilidade compõem aproximadamente 30% dos livros apresentados. 

A última palestra foi do Prof. Ivan Ricarte que apresentou um pouco de sua trajetória na UNICAMP desde seu ingresso em 1980. Mostrou, por exemplo, a lista dos alunos que passaram por suas aulas, sua participação no ato 1981 na UNICAMP para protestar contra o governador Paulo Maluf, os prêmios e reconhecimentos recebidos por ele. Finalmente, ele apresentou seus planos quando deixar a UNICAMP.

Para finalizar o primeiro dia do Workshop, tivemos a apresentação do conjunto “Os notas 10 afinados” formado pelos Profs. Ivan Ricarte (violão e voz) e Vitor Coluci (violão 7 cordas) e pela Profa. Juliana Bueno (voz).

Eles apresentadas músicas de Adoniran Barbosa, Noel Rosa, Chiquinha Gonzaga, Pixinguinha, Marisa Monte e Lupicínio Rodrigues.

 

Dia 3/12/19

O segundo dia do Workshop iniciou com o curso sobre provas no Moodle proferido pela servidora Luciana M. Cordeiro do GGTE. A Sra. Luciana mostrou noções básicas do Moodle e exemplificou alguns tipos de questões que podem compor as provas no Moodle. Mostrou também o processo de criação da prova (questionário) e como usar o livro de notas. Em seguida, tivemos o curso sobre produção de vídeo aulas proferido pelo servidor Edson Zanini que mostrou vários aspectos importantes como planejamento, iluminação e postura do apresentador para se preparar um bom vídeo.

Após o almoço, tivemos a oficina sobre currículo baseado em competências oferecida pelo Dr. Dario C. Fernandes (FCM). Na oficina foram discutidos por meio de dinâmica de grupo o conceito de competência e sua avaliação dentro da sala de aula, o “CHA” (Competência, Habilidade e Atitude), metodologias ativas, a pirâmide Saber-Saber como fazer-Mostrar como fazer- Fazer.

 

Na oficina foram apontados as que competências como resolução de problemas, pensamento crítico, criatividade e habilidades sociais são necessárias em muitas das profissões de hoje.

Gostaríamos de agradecer aos palestrantes Rickson, Dario, Luciana e Zanini, ao Prof. Marco Antônio do GGTE pelos cursos de Moodle e vídeo-aula, ao Prof. André de Angelis pelas fotos do evento e à direção da FT pela ajuda de custo.